A Inovação no Setor Social (Parte 2)
No seguimento do tema explorado no artigo anterior, é importante reconhecer que a eficácia, e consequente sucesso, da inovação no setor social passa por um processo que deve dar voz às pessoas carenciadas, desde o momento em que se analisa um problema até àquele em que se procura implementar, na prática, as respetivas medidas de resposta.
Em muitos casos, os dados provenientes dos laboratórios e gabinetes de pesquisa não são tão determinantes como a informação recolhida junto da população que convive diretamente com as dificuldades, informação essa que se pode revelar decisiva na escolha correta das intervenções sociais necessárias. Assim, podemos assumir que opções e possibilidades como esta devem ser sempre consideradas quando se pretende inovar com sucesso.
Capacidade para executar uma ideia
Embora estejam constantemente a surgir novos conceitos e ideias revolucionários, que motivam mesmo um conjunto de promessas sem precedentes para a comunidade global, o pensamento e a tecnologia superaram, de facto, a capacidade das instituições em aplicar e ampliar esses métodos, de forma eficiente. Frequentemente, verifica-se que a competência para se implementarem as novas abordagens não consegue acompanhar a velocidade com que estas vão surgindo.
A inovação deve passar, portanto, pelo desenvolvimento das capacidades entre instituições, comunidades e indivíduos. De nada serve uma brilhante ideia se não existirem os meios para que esta seja posta em prática. Neste contexto, torna-se importante assegurar que os benefícios da globalização chegam às sociedades subdesenvolvidas, bem como procurar aumentar a sua resistência às variadas crises do século XXI.
Luta contra o tempo
Conforme exposto previamente, a inovação bem-sucedida, capaz de transformar o sistema social, requer paciência. Contudo, muitas vezes o tempo escasseia quando se trata de prestar auxílio a populações desfavorecidas. É verdade que, enquanto esperamos por uma certa vacina ou avanço tecnológico, existem pessoas dependentes dessas inovações, e outras que continuam a sofrer devido a extrema pobreza, à inexistência de água potável, à escassez de alimento, ou mesmo a secas e inundações. Ao mesmo tempo, lutam também para educar os filhos ou terem acesso aos cuidados de saúde que necessitam para manterem as suas famílias seguras e saudáveis.
Inovação para a resistência social
É impossível prever a forma e o alcance das crises que muitas sociedades terão de enfrentar, e das quais terão de recuperar, no futuro – quer sejam resultado de catástrofes naturais, crises financeiras, conflitos armados ou convulsões sociais. No cerne destes desafios, a inovação para a resistência – sistemas, comunidades e organizações mais resistentes, mais capazes de responderem e se adaptarem mediante eventualidades inesperadas – está entre os mais importantes processos de inovação.
Requisitos e características necessários
A inovação para a resistência social não pode ser esquecida quando se pretende proteger sociedades inteiras das potenciais crises deste século. À medida que são feitos progressos nesse sentido, devem-se ter em conta certas características fundamentais, que os sistemas, as comunidades e as organizações devem incorporar e partilhar entre si:
– Flexibilidade, relacionada com a capacidade de mudança de rumo, de evolução e adaptação das abordagens e metodologias adotados.
– Acessibilidade de recursos, essencial para a identificação de problemas sociais, a estabilização de prioridades e a mobilização de recursos e ativos necessários para o alcance das metas e objetivos propostos.
– Previsão e antecipação, que desempenham um papel crucial quando se lida e convive com as consequências de crises que se desenvolvem lentamente, de modo a evitar que estas tomem proporções avolumadas e possam deixar de afetar a sociedade o mais rápido possível.
– Disciplina, importante para a reorganização e reposição de funções e de ordem aquando do insucesso de uma tentativa.
– Aprendizagem, que reflete a capacidade de interiorizar experiências e aplicar essas lições para diminuir a vulnerabilidade social em futuras crises.
Resistência vs Vulnerabilidade
No fundo, o objetivo dos empreendedores sociais é tornar este mundo mais resistente do que vulnerável, e que, principalmente, as comunidades mais desfavorecidas sejam capazes de fazer frente aos problemas que não podem ser prevenidos ou mesmo preditos.
Todos temos um papel a desempenhar na promoção da inovação dentro do setor social. Governos podem decretar políticas mais inteligentes e eficazes, negócios podem abrir portas para novos mercados e canais de distribuição, e os investidores podem apostar em produtos que ofereçam retorno financeiro e social. Desde que haja esse desejo e iniciativa, a resistência social pode, efetivamente, ser conseguida.